Refletindo sobre a Saúde

 Conheça a reflexão oferecida pela Dra Daphne Rattner,
através do Comitê da Cultura de Paz.

90º Fórum do Comitê da
Cultura de Paz
parceria UNESCO – Palas Athena

NASCIMENTOS HUMANIZADOS
— promovendo a paz e a não violência —


 Dra. Daphne Rattner
No início do século passado, o parto era atendido majoritariamente
 no domicílio, por parteiras. As famílias tinham muitos filhos para
que alguns resistissem às difíceis condições de vida à época,
quando não havia antibióticos para prevenir e curar infecções.

A partir dos anos quarenta, começou a crescer a tendência à

hospitalização dos partos, e chegamos no final do século
passado com mais de 90% dos partos realizados em hospitais.
Os avanços na antibioticoterapia e na disponibilidade de meios
 tecnológicos para diagnóstico e terapêutica, assim como a
melhoria nas condições de vida, contribuíram de forma
 importante para a efetiva redução na mortalidade materna e neonatal.

O entusiasmo crescente com as possibilidades do desenvolvimento

 industrial do século XX influenciou todos os setores da
atividade humana. Também no setor Saúde o componente
técnico foi privilegiado em relação ao componente
do cuidado, e a racionalidade mecânica ou industrial -
apenas em função da produtividade - foi aplicada a muitos
aspectos da atenção. Ainda que "dar à luz não
seja uma doença ou processo patológico"
(Marsden Wagner, 1982), a assistência a nascimentos também
seguiu esse padrão industrial, e algumas maternidades agendam
cesarianas como se fossem uma linha de produção de nascimentos,
 por conveniência de profissionais e das instituições, ostentando
taxas de 70% e até 100% de cesáreas.

Por outro lado, tem crescido o número de pesquisas

que identificam algumas práticas de atenção como formas
de violência institucional, tanto para mulheres como para
seus bebês, havendo trabalhos que salientam a importância
da primeira vivência infantil como marcadora (imprinting)
 para a continuidade da vida desse recém-nascido.

Considerando a riqueza desse processo, que além de

 biológico, tem sido abordado como fenômeno cultural,
social, sexual e espiritual, numa concepção holística,
há um forte movimento nacional e internacional que
propõe a humanização da atenção a nascimentos
 e partos como uma resposta à mecanização na
organização do trabalho e à violência institucional.